Batman, 75

O que tem em comum o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, o ativista mascarado Eron Melo, tornado celebridade com os protestos populares no Rio de Janeiro, e o colecionador de brinquedos Márcio Marques? A associação dos seus nomes ao herói dos quadrinhos americano Batman. O elo que une esses três brasileiros comemora 75 anos desde o último dia 30, com uma série de eventos e homenagens organizados pela sua editora, a DC Comics, e pela dona dela, o grupo Warner Bros. (veja lista). A bem sucedida trajetória do Homem-Morcego (veja quadro) conseguiu torná-lo um ícone universal, tão facilmente reconhecido em qualquer parte do planeta quanto Papai Noel. Para seus milhões de fãs, sua façanha é, contudo, ainda maior, alcançando o posto de produto cultural multimídia e mito moderno. Tudo começou no fim de abril de 1939, quando foi publicada The Case of the Chemical Syndicate, a primeira história do então chamado Bat-Man. Desenhado pelo jovem Bob Kane e escrita pelo parceiro oculto dele, Bill Finger, a primeira de inúmeras aventuras acaba com a morte do vilão em um túnel de ácido. Uma origem violenta que foi anulada e revivida nos anos seguintes. Um ano depois da estreia, Batman ganhou revista própria, já acompanhado do parceiro mirim Robin e dos primeiros membros da ampla galeria de inimigos famosos, como o pior deles, Coringa, e a sua eterna paixão Mulher-Gato. De lá para cá, uma obra coletiva de centenas de artistas em torno de Batman criou um vasto universo de lugares fictícios, figuras amigas e rivais do protagonista e uma penca de símbolos que despertam a curiosidade de leigos e estudiosos. Nessa lucrativa seara estão desde o Batmóvel, carro mais conhecido da cultura pop, e expressões como dupla dinâmica. Para celebrar três quartos de século do Cavaleiro das Trevas, também conhecido como “o maior detetive do mundo” e “campeão de Gotham”, a DC/Warner anunciou com pompa a abertura do Ano do Morcego no fim de março, com um site comemorativo (www.batman75.com) e um perfil no Facebook que recebeu 12 milhões de curtidas apenas na primeira semana. Enquanto não chega à telona o primeiro encontro em blockbusters de Superman e Batman, agora na pele polêmica de Bem Affleck, previsto para estrear no verão americano de 2016, dá-lhe animações, games e gibis especiais. Son of Batman, o próximo longa animado da Warner/DC depois de Justice League: War, ganhou um clipe com cenas inéditas. Entre seus dubladores está a atriz brasileira Morena Baccarin, que faz a voz da sensual vilã Talia al Ghul. O filme conta a história do surgimento de Damian, filho do alterego do Morcegão, Bruce Wayne, com ela. O filme sai em 6 de maio nos Estados Unidos e, no segundo semestre, virá a superprodução em cartoon Assault on Arkham. Para o advogado carioca Márcio Marques, dono de uma das cinco maiores coleções de quadrinhos e objetos inspirados em Batman do mundo, o sucesso do seu super-herói preferido está no fato de ser uma pessoa “comum”, sem superpoderes, mas que quer ser um ser humano melhor, tirando forças da dor de suas perdas trágicas. “Ele vai aos extremos para alcançar esse objetivo. E ainda é um personagem totalmente adaptável a qualquer época, a qualquer língua, a qualquer costume, sendo metamórfico sem perder a essência”, observou. Principal especialista brasileiro da série de tevê clássica Batman e autor de Sock! Pow! Crash”, Jorge Ventura lembra que seu fascínio pelo personagem vem desde a infância, sem se importar qual a versão. “O fato de ele experimentar esta gangorra de emoções e sentimentos diários, com sede por justiça, em um mundo socialmente tão desigual e violento, faz de Batman um pouco o reflexo de cada um de nós”, filosofou. “Geração após geração, ele transcendeu o tempo e renovou seu público”. Renato Araújo, presidente do maior fã clube de Morcegão do país, o Batbase, contou que o mundo do herói dos gibis o levou ao colecionismo sem perceber, onde está há mais de 25 anos. Além do fato de não ter superpoderes, Batman chamou sua atenção pela obstinação por Justiça, mas sem agir como os vigilantes que exterminam criminosos. “É claro que seus brinquedinhos, como o Coringa de Jack Nicholson chamou suas ferramentas no filme de 1989, chamam muito a atenção de todos, de crianças aos mais velhos”, confessou. “Mas uma das coisas que emprego em minha vida inspirado nele é sempre ser justo com as pessoas e me manter forte para o que der e vier”, acrescentou. Eron, o Batman dos Protestos, revelou em recente entrevista ao blog Dicionário do Morcego, dedicado aos fãs brasileiros do personagem, que sua máscara é “um símbolo de luta contra a corrupção e a injustiça”. “Não é pelo anonimato. Nem todo mascarado é vândalo", protestou o protético, que chegou a ser detido por descumprir a lei proibindo cobrir o rosto em manifestações do Rio. O Batman criado por Kane e Finger é bem diferente do que conhecemos hoje. É uma figura multifacetada, que reúne histórias antológicas e fracas, mas é cada vez mais atraente aos batmaníacos, grupo que inclue até um rabino americano, Cary Friedman. (continua no post seguinte) OBS: versão ampliada de texto publicado na edição de hoje do Correio Braziliense

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Só o pó na capa do Batman...

O segredo do morcego

O Coringa no Funk